O anúncio da demissão da diretora do Federal Reserve (Fed) Lisa Cook pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e, no Brasil, o IPCA-15 de agosto pior do que o esperado formaram o eixo central dos mercados nesta terça-feira (26), mas os desdobramentos podem vir a partir desta quarta-feira (26).
A decisão de Cook de entrar com uma ação judicial para contestar a ordem de Trump — que a acusa de fraude hipotecária — adicionou mais incertezas e riscos à independência do banco central norte-americano, mas no fim do dia, o republicano sinalizou que vai acatar qualquer que seja a decisão da justiça.
Com isso, as bolsas em Nova York avançaram — o Dow Jones subiu 0,30%, o S&P 500 teve alta de 0,41% e o Nasdaq ganhou 0,44% — , o dólar caiu no exterior e a curva dos Treasurys ganhou inclinação, mas essa questão está longe de ser resolvida. A Capital Economics avalia que a ofensiva de Trump contra Cook expõe riscos crescentes de politização da política monetária nos EUA.
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Segundo a consultoria britânica, embora seja improvável que Trump consiga formar maioria no Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) durante seu mandato, “está claro que estamos voltando a um mundo em que o Fed é muito mais politizado. Isso traz o risco de maior incerteza sobre a trajetória dos juros e, por extensão, de taxas de longo prazo mais altas”.
Para os mercados, a demissão da diretora deve seguir repercutindo, segundo o ING, com a inclinação a curva de juros dos Treasurys e enfraquecimento do dólar globalmente.
“O caso provavelmente acabará nos tribunais, deixando a questão de saber se ela manterá seu cargo durante o recurso ou se o conselho de diretores do Fed e o Fomc, que define os juros, ficarão com um membro a menos até que o caso seja resolvido”, afirma o ING.
De toda forma, os traders já se posicionaram. Com o aumento das chances de indicação de um nome dovish (mais favorável ao afrouxamento monetário) para o lugar de Cook, as apostas na redução de juros em setembro seguiram amplamente majoritárias nesta terça-feira (25).
Trump não vai dominar o Fed, mas a influência aumenta e os riscos também
O episódio envolvendo Cook deve ser longo. Se tiver êxito, Trump poderia indicar até meados de 2026 cinco dos sete membros do conselho de governadores, ampliando sua influência em decisões sobre os juros e sobre a regulação bancária.
No entanto, a Capital Economics lembra que o Fomc é composto também por presidentes de Fed regionais, o que torna improvável a captura completa do comitê.
Mas uma verdade é inevitável: mesmo sem maioria, os indicados por Trump já devem exercer influência significativa, favorecendo cortes de juros em votações apertadas. Atualmente, a taxa por lá está na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano.
A consultoria britânica agora projeta 100 pontos-base de afrouxamento monetário no próximo ano, com dois cortes sob a gestão atual de Jerome Powell e outros dois após a escolha do próximo presidente do Fed. O mandato de Powell vence em maio do ano que vem.
Já o economista Paul Krugman alertou que a demissão de Cook terá implicações “profundas e desastrosas”, se realmente for efetivada. “Os EUA estarão a caminho de se tornar a Turquia, onde um governante autoritário impôs sua economia maluca ao banco central, fazendo a inflação disparar para 80%”, escreveu o vencedor do Prêmio Nobel em 2008.
Para Krugman, os mercados provavelmente vão continuar ignorando a “ilegalidade da administração Trump”. “E talvez façam isso novamente. Mas, na verdade, isso não importa. Isso não é, em última análise, sobre política monetária. É sobre se ainda somos uma nação de leis”, afirmou.
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Nem tudo está perdido
Ainda que o mercado tenha entrado em modo de alerta sobre a independência do Fed, nem tudo está perdido e esse episódio envolvendo a demissão de Cook pode trazer desdobramento positivos.
Segundo a Capital Economics, a disputa judicial “dará uma ideia mais concreta dos limites do poder de Trump de influenciar a política monetária”, reforçando a percepção de independência do banco central. Mas a consultoria britânica que ataques prolongados às instituições norte-americanas podem elevar os rendimentos de longo prazo dos Treasurys, pressionar o dólar e afetar as bolsas.
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